O QUE É A GREJA.
Josimar Salum
Alguém disse: Duro é este discurso. Pode até ser, mas não se pretende aqui encerrar o assunto como palavra final. É apenas um texto para uma reflexão honesta! E se o Espírito Santo nos guiar a Verdade, não quero resisti-lo.
Quando pensamos ou definimos "igreja" temos hoje como base o que vemos, entendemos e experimentamos, e não o que os discípulos de Jesus viveram no primeiro século e nem o que o Espírito Santo ensina nas Escrituras.
Vejamos: "Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.” Mateus 18:20-21
Entendamos: "Os que aceitaram a mensagem foram batizados, e naquele dia houve um acréscimo de cerca de três mil pessoas. Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em casa e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos.” Atos 2:41-42, 46-47
A Igreja não era um evento, era a prática diária da vida discípulos.
A Igreja não era uma organização, mas uma comunidade em crescimento, de discípulos, uns sujeitos aos outros.
A Igreja não era um culto, os discípulos não cultuavam a Deus em reuniões de culto, não havia culto, mas convívio - comunhão, partir do pão, todos eles em centenas de locais diferentes participando de refeições juntos.
A Igreja não era fragmentada por lideranças que não tinham comunhão, mas de discípulos que se dedicavam ao ensino dos apóstolos e não de um líder somente.
A Igreja não era ligada à um templo, apenas se reuniam no pátio do templo em Jerusalém. O templo era dos sacerdotes judeus que serviam num "lugar santo" separado do "santo dos santos" por um véu costurado, enquanto o povo tinha acesso somente ao Atrio. Não havia "culto de crentes nesse templo. Eles se reuniam no templo de Herodes, mas não para cultuar Jesus. Era proibido cultuar a Jesus neste templo.
No Novo Testamento não existe "nossa igreja". Há uma Igreja. No Novo Testamento não perdura a ideia de um local exclusivo para reunir os crentes, em um só edifício ou em qualquer lugar exclusivo. A Igreja não é local. O local não faz a Igreja. Em qualquer lugar os irmãos e as irmãs se encorajavam mutuamente na fé, mas não havia nenhum LOCAL EXCLUSIVO.
Ora, pois, não fique pensando também que Igreja é se reunir em um grupinho independente e separado, que não reconheça presbíteros estabelecidos por Deus para pastorear o rebanho de Deus. E também não pense que este pastoreio é exclusivo de um só "pastor", cada qual com seu rebanho. A Igreja de Deus não é assim!
Isto tem que acontecer para ser Igreja: que andemos "de modo digno da vocação a que fomos chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-nos uns aos outros em amor, esforçando-nos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz." Separados em igrejas pessoais, distintos em denominações, membros de igrejas diferentes, isto não acontece. O que tem acontecido é competição, visões próprias, cada um na sua tribo, cada qual com sua causa, um rebanho para cada pastor, lutando para aumentar seus membros, crescer sua própria igreja e ministério. As exceções ainda são raras.
"Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos."
O que importa e tem que acontecer é que "seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem-ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.” Efésios 4:1-6, 15-16
Sem juntas, sem cooperação de cada parte não é Igreja. Esta cooperação tem que suceder entre discípulos e não entre "igrejas." Igreja são discípulos individualmente como membros uns dos outros, jamais individuais, separados em grupos isolados que começaram a praticar estes princípios como se fossem toda a Igreja. Que bom que comecemos!
“Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros e esses membros não exercem todos a mesma função, assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros. Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada. Se alguém tem o dom de profetizar, use-o na proporção da sua fé. Se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine; se é dar ânimo, que assim faça; se é contribuir, que contribua generosamente; se é exercer liderança, que a exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria.
Dediquem-se uns aos outros com amor fraternal. Prefiram dar honra aos outros mais do que a vocês. Nunca falte a vocês o zelo, sejam fervorosos no espírito, sirvam ao Senhor. Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração. Compartilhem o que vocês têm com os santos em suas necessidades. Pratiquem a hospitalidade. Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem-nos, não os amaldiçoem. Alegrem-se com os que se alegram; chorem com os que choram. Tenham uma mesma atitude uns para com os outros. Não sejam orgulhosos, mas estejam dispostos a associar-se a pessoas de posição inferior. Não sejam sábios aos seus próprios olhos.” Romanos 12:4-8, 10-16 NVI
Sei que se eu não for à "igreja", ao templo todo os domingos, não significa que não congrego mais, mas também estou atento ao fato de que muitos usam esta ideia como justificativa para não se reunirem como igreja de jeito e em nenhum outro lugar, cada um sendo pastor de si mesmo. Ficam isolados em suas casas e em seus mundinhos criticando todo mundo e amargando a escassez de comunhão com os santos. Amo estar com o povo de Deus em qualquer lugar, até mesmo nos templos cristãos.
“Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” Hebreus 10:25
Infelizmente quando lemos "congregar-nos" pensamos imediatamente que se refere a nossa igreja na Avenida dos Santos, número 777, ou minha célula ou grupo familiar, ou qualquer nome que queiramos usar.
Célula não é Igreja. Células não são a Igreja. Grupo familiar não é igreja. A minha família sozinha e isolada não é Igreja. Os discípulos em Jerusalém jamais entenderiam assim.
Todas as vezes quando se reuniam, não para cumprirem uma agenda, os discípulos viviam dia a dia, no dia a dia da vida, quando reuniam-se natural e normalmente para qualquer coisa, eram a Igreja, porque na cidade de Jerusalém eram uma só Igreja.
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.” Atos 2:42, 46-47
Lembre! O templo não era da Igreja, mas dos judeus! Era o local em Jerusalém que todos os judeus, discípulos ou não, frequentavam. Os discípulos lá não podiam orar juntos como igreja nem fazer qualquer manifestação como Igreja. Tanto que não, que Pedro e João foram presos, porque curaram um coxo na porta do templo. O templo de Herodes não tem nada a ver com a Igreja. Templos não tem nada a ver com a Igreja de Deus! Com eles ou sem eles, a Igreja é!
Eis um desafio, um hiato, para depois continuar! Que os templos cristãos, todos eles, se tornem casas de misericórdia, locais da prática do jejum que agrada a Deus!
“Todavia, me procuram cada dia, tomam prazer em saber os meus caminhos; como um povo que pratica a justiça e não deixa o direito do seu Deus... dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos a nossa alma, e tu o não sabes? Seria este o jejum que eu escolheria: que o homem um dia aflija a sua alma? (...) Chamarias tu a isso jejum e dia aprazível ao Senhor? Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e que despedaces todo o jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da tua carne?” Isaías 58:2-3, 5-7
Só há igreja de fato se estamos reunidos e nos sujeitamos uns aos outros. Ou melhor, o Corpo de Cristo só se manifestará se estivermos juntos e servindo uns aos outros.
A Igreja de Deus é baseada na expressão "uns aos outros": amai-vos uns aos outros, perdoai-vos uns aos outros, suportai-vos uns outros, confortai-vos uns aos outros, etc.
Para sermos sinceros isto não acontece com eficiência através do "culto evangélico", os encontros, encontrões, cultos, nem com a "missa catolica" - suas práticas são muito semelhantes - porque o culto é apenas um programa, uma liturgia, de pouquíssimas pessoas à frente no púlpito, no "altar" enquanto as pessoas olham nas nucas dos outros a sua frente e não podem exercer o que deveriam "uns com os outros" ou "uns aos outros!"
Quando estamos juntos, dois ou três, mas não isolados, somos a Igreja, embora não seja a Igreja na sua plenitude.
O Reino de Deus se expressa poderosamente na Igreja, mas a Igreja não é o Reino. Deus nos fez reis e sacerdotes como Seu Filho Jesus! E não nos submetemos a Jesus diretamente a não ser que nos submetamos e sujeitemos uns aos outros em Igreja. Somos todos um, mas somente se estivermos unidos nEle, em Jesus sendo individualmente membros uns dos outros.
E Jesus nos fez reis. Assim precisamos entender que adorar não é simplesmente cantar, levantar as mãos, ajoelhar, prostrar, mostrar devoção; estas coisas são partes mínimas do que é adorar e servir a Deus. Ninguém serve a Jesus sem servir ao seu semelhante.
"Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” Mateus 25:31, 33-36, 40